EXTRAÇÃO DE PROVAS DIGITAIS: Cuidados Essenciais

No cenário contemporâneo, onde praticamente todas as interações humanas passam por algum tipo de meio digital, as provas digitais se tornaram cruciais para a construção de estratégias de defesa e acusação no processo penal. Nesse contexto, a extração de dados de dispositivos móveis e a forma como essa extração ocorre tem tido destaque quando se trata da coleta e análise de evidências digitais, principalmente em razão das tecnologias utilizadas para acessar dados armazenados em dispositivos móveis, computadores e serviços em nuvem e do respeito às garantias fundamentais envolvidas.

 

Você sabe como algumas dessas ferramentas funcionam?

 

Algumas soluções existentes hoje são projetadas para acessar informações críticas. Entender como esses dados são coletados, preservados e analisados é essencial para poder contestar possíveis abusos e garantir a defesa adequada dos nossos direitos.

 

1. Coleta (extração) de Dados 

 

O processo de coleta pode ser realizado de diversas formas, cada uma apresentando um nível diferente de extração:

 

  • Nível 1: Extração Lógica:

    Coleta dados visíveis no dispositivo, como mensagens, registros de chamadas e listas de contatos.


    Menos invasiva, mas também menos completa, pois não acessa dados apagados ou criptografados.

     

  • Nível 2: Extração Física

     

    Realiza uma cópia bit a bit da memória do dispositivo, incluindo dados excluídos e informações do sistema operacional.

     

    Permite a recuperação de arquivos apagados e a reconstrução de mensagens excluídas.

     

  • Nível 3: Extração de Arquivos de Sistema

     

    Acessa dados mais profundos, incluindo arquivos de sistema, registros de aplicativos e informações de sistema que não são acessíveis por métodos lógicos.

     

  • Nível 4: Métodos Avançados

     

    Incluem desbloqueio de dispositivos protegidos por senha, quebra de criptografia e acesso a dados armazenados em áreas protegidas da memória.

     

2. Desbloqueio e Decodificação

 

Algumas ferramentas são projetadas para conseguir desbloquear dispositivos móveis protegidos por senha e até decodificar  a criptografia avançada de modelos mais novos de iPhones e Android; acessando, assim, informações críticas até em dispositivos bloqueados.

 

3. Análise de Dados

 

Uma vez que os dados são extraídos, essas ferramentas realizam o processamento dos dados para:

  • Reconstruir mensagens e conversas excluídas;

     

  • Analisar dados de aplicativos como WhatsApp, Telegram, Facebook e Instagram;

     

  • Mapear localizações com base em dados de GPS e redes Wi-Fi;

     

  • Identificar padrões de comunicação e conexões entre contatos;

     

  • Gerar relatórios dos dados extraídos.

     

4. Análise de Dados em Nuvem


Além dos dispositivos físicos, muitos dados estão armazenados em serviços de nuvem, como iCloud, Google Drive e redes sociais, a análise de dados em nuvem permite acessar essas informações salvas em servidores descentralizados, permitindo a reconstrução de conversas e identificação de atividades digitais que não estão salvas no dispositivo acessado.


Importância no Contexto Jurídico e a Necessidade de Impugnação


Embora essas ferramentas sejam amplamente utilizadas e reconhecidas, é fundamental que os advogados, especificamente criminalistas, compreendam como o processo de extração de dados ocorre para que seja possível contestar essas provas de forma técnica e precisa. Mesmo as evidências extraídas com a tecnologia mais avançada estão sujeitas a erros, falhas de interpretação e irregularidades durante o seu uso, dentre os quais destacamos
:

 

  • Procedimentos Irregulares de Coleta:

     


    Extrações realizadas sem autorização judicial ou com violações ao devido processo legal podem ser completamente desconsideradas em juízo.
  • Preservação Inadequada dos Dados:

    Alterações nos metadados, manipulações acidentais ou uso de métodos inadequados para a coleta podem comprometer a integridade da prova.

  • Contexto Incompleto ou Manipulado:

    Mensagens e registros digitais podem ser descontextualizados para criar uma narrativa desfavorável ao acusado, exigindo uma análise crítica e detalhada.

  • Falhas Técnicas no Software:

    Mesmo as ferramentas mais avançadas não estão imunes a erros, como extrações incompletas, dados corrompidos ou inconsistências no relatório forense.

  • Falta de Expertise do Perito:

    A
     análise e interpretação dos dados exigem conhecimento técnico especializado. Qualquer falha nesse processo pode ser explorada pela defesa para questionar a confiabilidade das provas.

  • Preservação e Cadeia de Custódia:

    Para garantir que as evidências digitais sejam aceitas nos tribunais, é essencial que os dados sejam coletados e preservados de forma correta e em atenção às regras previstas na cadeia de custódia.

    As ferramentas de extração de dados registram metadados e criam relatórios detalhados para documentar cada etapa do processo, protegendo a cadeia de custódia e garantindo a integridade das provas e é preciso estar atento à esses dados, já que são eles que permitem verificar se o arquivo não foi corrompido ou manipulado de forma indevida.

A falta de cuidados com o arquivo digital pode violar a cadeia de custódia da prova, o que afeta diretamente a eficácia do processo.

Compreender as limitações e possibilidades da análise digital permite questionar a validade das provas apresentadas, identificar falhas na cadeia de custódia e exigir perícias independentes de forma mais assertiva. Além disso, a coleta adequada de contraprovas digitais pode ser decisiva para refutar acusações e demonstrar a inocência de seus clientes.

 

Então, além de apresentar provas digitais de maneira adequada, é cada vez mais necessário compreender como impugná-las de maneira específica e adequada. 

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